Restauração florestal: um estudo mostra a necessidade de investir em projetos de "alta qualidade" com mais de 10 espécies plantadas

Fonte da imagem: MORFO
13 de março de 2024

Uma análise de mais de 200 projetos de plantio de árvores para a geração de créditos de carbono em todo o mundo mostrou que a grande maioria tem baixa biodiversidade. Apenas 12% deles plantam dez ou mais espécies nativas, enquanto 32% usam exclusivamente espécies exóticas.

Muitos projetos de restauração ainda têm uma baixa diversidade de espécies não nativas

O estudo, realizado pela Social Carbon Foundation, uma ONG britânica, em colaboração com a Eco+ Foundation, financiada pela empresa química alemã Basf, destaca os desafios associados à restauração de ecossistemas e ao combate às mudanças climáticas por meio do reflorestamento e da restauração de áreas degradadas. Esses projetos, registrados internacionalmente desde 1999, visam aumentar os estoques de carbono na biomassa e no solo por meio do plantio de árvores, que capturam CO2.

"A análise identificou a necessidade de revisar o tipo de projeto ARR elegível para a certificação de carbono", afirma o documento. "Uma proporção significativa de projetos planta espécies não nativas, usa extração de madeira e não monitora os benefícios associados. Esses projetos oferecem benefícios limitados para a biodiversidade."

No entanto, a análise revela que muitos projetos favorecem o plantio de espécies não nativas, recorrem à extração de madeira e negligenciam o monitoramento dos benefícios adicionais, limitando assim os benefícios para a biodiversidade. Os projetos foram categorizados de acordo com o uso de espécies nativas, mistas ou exóticas, cada uma com diferentes impactos sobre o ecossistema.

No primeiro caso, uma variedade de espécies naturalmente presentes na área é plantada, maximizando o potencial de restauração. Os projetos de espécies mistas geralmente combinam árvores com culturas agrícolas. Os projetos de espécies exóticas plantam espécies não nativas para fins comerciais, inclusive monoculturas.

"Percebemos que, embora o número de projetos desse tipo tenha aumentado nos últimos anos, essa expansão pode ter sido feita à custa de menos biodiversidade", diz Tiago Egydio, biólogo e diretor da Fundação Eco+.

"Se você estiver realizando um projeto de restauração florestal, certamente poderá usar espécies não nativas em sua plantação, mas precisará escolher com muita precisão quais espécies e quanto espaço elas ocuparão em um determinado período", explica.

"Ela pode sombrear estrategicamente uma área, mas após um ciclo de cinco a dez anos, ela cumpre sua função e as espécies de crescimento um pouco mais lento que estavam embaixo começam a ganhar força e a se estruturar em um ecossistema florestal nativo de longo prazo."

Uma observação recorrente no estudo é a predominância de projetos que favorecem o cultivo de espécies de crescimento rápido, como o eucalipto e a teca. Embora essas espécies sejam nativas de regiões como a Oceania, seu uso em projetos pode dar a impressão de uma restauração de ecossistemas abordagem de restauração focada em espécies locais. No entanto, o relatório frequentemente revela que essas plantações são, na verdade, plantações comerciais para fins de exploração madeireira.

A análise também mostra que apenas 18% dos projetos que afirmam usar espécies nativas de fato plantam dez ou mais espécies, enquanto 57% plantam apenas quatro ou menos. De acordo com os autores do estudo, um projeto ideal de restauração ou restauração de ecossistemas deve incorporar mais de dez espécies nativas em pelo menos metade dos casos.

Os pesquisadores destacam que os resultados indicam uma falha no mercado atual de compensação de emissões de gases de efeito estufa.

"Os projetos podem selecionar espécies nativas com base em seu potencial de captura de carbono e não projetar projetos de ARR a partir de uma perspectiva de saúde do ecossistema."

Divaldo Rezende, engenheiro agrônomo e presidente da Social Carbon no Brasil, explica que, na prática, os créditos de carbono para projetos mais complexos com foco em restauração podem ser mais caros, mas também são mais confiáveis em termos de eficácia e oferecem benefícios que vão além da captura de CO2.

"Hoje, os principais compradores de créditos de carbono não querem os de uma monocultura, porque a monocultura pode gerar riscos adicionais, inclusive em termos de reputação", diz ele. "Por outro lado, quando você tem projetos para restaurar ou usar espécies nativas, você cria ou fortalece um ecossistema específico, melhorando a biodiversidade, a água e até mesmo a inclusão social."

Ele também destaca que os benefícios da bioeconomia estão especificamente associados a áreas plantadas com espécies nativas, que podem fornecer, por exemplo, compostos bioativos, óleos vegetais e outros produtos de valor agregado que vão além da silvicultura.

O relatório mostra que a extração de madeira é responsável por 48% dos projetos analisados, uma prática que é particularmente difundida (90%) em projetos baseados em espécies exóticas, muitas vezes ligadas ao setor florestal tradicional. Em contrapartida, apenas 15% dos projetos que utilizam espécies nativas recorrem a essa prática, concentrando-se, em vez disso, no aumento da biodiversidade e, às vezes, incluindo atividades como a colheita de frutas.

Em termos de distribuição geográfica, a Ásia e a América Latina abrigam a maioria dos projetos, com a China na liderança, responsável por 57 dos casos estudados. No geral, 44% dos projetos se concentram em espécies nativas, seguidos por 32% de espécies exóticas.

No entanto, a situação varia significativamente fora da China, onde os projetos de espécies nativas caem para 25%, enquanto os projetos de espécies exóticas e mistas representam 42% e 33%, respectivamente.

No Brasil, uma análise de 12 projetos revela uma média de mais de 24 espécies por projeto, embora essa média seja influenciada por um projeto em São Paulo que cultiva 150 espécies diferentes.

Uma necessidade urgente de aumentar a escala usando uma mistura diversificada de espécies nativas

O estudo também destaca a importância crucial da implantação de projetos de Regeneração Assistida por Espécies Indígenas (RAAS) em escala global para combater a degradação ambiental, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.

"É essencial que os projetos de Regeneração Assistida por Espécies Nativas (NSAR) sejam implementados em larga escala em todo o mundo para lidar com a degradação ambiental, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. No centro dessa abordagem está a escolha deliberada de usar uma mistura diversificada de espécies nativas."

De acordo com os pesquisadores, a chave para esses projetos está no uso estratégico de uma variedade de espécies indígenas. Essas espécies, profundamente integradas em seus ecossistemas locais, fazem contribuições importantes para o plantio de árvores, restauração de ecossistemas e iniciativas de revegetação. Elas são adaptadas às condições climáticas e aos solos específicos de sua região e mantêm interações ecológicas complexas, facilitando a criação de ecossistemas resilientes e prósperos. É aconselhável incluir pelo menos dez espécies nativas nesses projetos, e muitas mais, para recriar fielmente os habitats naturais e maximizar os benefícios para a biodiversidade.

A adoção de uma ampla diversidade de espécies nativas ajuda a aumentar a biodiversidade, incentivando a coexistência harmoniosa entre diferentes espécies de plantas e animais.

Essa diversidade contribui para o equilíbrio ecológico e a resiliência, oferecendo maior resistência aos desafios ambientais. Além disso, as espécies nativas geralmente têm maior resistência a pragas e doenças, reduzindo a necessidade de produtos químicos externos, como pesticidas, e garantindo um sequestro de carbono mais sustentável.

O estudo também recomenda a promoção da regeneração natural como o método preferido de restauração em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais. Reconhecida por sua eficiência e custo-benefício, a regeneração natural se destaca como uma estratégia ideal para restaurar florestas e paisagens em grandes áreas, em comparação com abordagens de restauração mais ativas.

No entanto, os projetos que incorporam mais de dez espécies nativas tendem a ser de menor escala (menos de 1.000 hectares), o que faz sentido, dados os custos mais altos e a necessidade de um suprimento maior de sementes, ressaltando a necessidade imperativa de soluções que possam ser implantadas em maior escala. É por esse motivo que há uma necessidade urgente de investir em pesquisa científica e tecnologia para viabilizar projetos de grande escala (mais de 1.000 hectares).

Deve-se observar que esse estudo também examinou as remoções de emissões de projetos de Reflorestamento e Restauração de Ecossistemas (RER) por região, país, abordagem de RER e biodiversidade. A análise revelou que, em média, as remoções anuais estimadas de emissões (ER) por hectare para projetos ARR exóticos foram 31% menores do que para projetos ARR com espécies nativas. Esse resultado é compreensível, especialmente considerando que 90% dos projetos exóticos envolvem exploração madeireira, em comparação com 15% dos projetos nativos. Outro estudo constatou que um projeto com pelo menos quatro espécies sequestra 70% mais carbono do que uma monocultura. O estudo também tentou determinar se o maior número de espécies plantadas parecia estar negativamente correlacionado com a ER anual por hectare. Isso provavelmente se deve ao fato de que os projetos que plantam menos espécies escolheram deliberadamente espécies de crescimento rápido com maior potencial de captura de carbono. Por outro lado, os projetos que se concentram em uma maior diversidade de espécies priorizam a biodiversidade e a reprodução de ecossistemas nativos em detrimento do carbono. Mas será que isso realmente se justifica? Se dermos um passo atrás, priorizar a biodiversidade e a reprodução de ecossistemas em detrimento da captura de carbono levanta questões sobre a supervalorização de projetos de baixa biodiversidade.

O MORFO é uma das soluções existentes para restauração em larga escala

Na MORFO, descobrimos esse estudo com grande interesse. Em resposta a esses desafios, a MORFO está surgindo como uma solução promissora. Nossa abordagem inovadora, que capitaliza os avanços da ciência e da tecnologia, tem como objetivo tornar os projetos de EFN com alta diversidade de espécies nativas não apenas viáveis, mas também escalonáveis, mesmo além de 1.000 hectares. Superamos as barreiras tradicionais de custo e disponibilidade de sementes, abrindo caminho para iniciativas mais ambiciosas de restauração florestal com maior impacto ambiental.

Para consultar o estudo, clique aqui.

Para saber mais sobre a MORFO, visite nosso site!

Diretor de Marketing, Comunicações e Relações Públicas (CMO)
Quentin Franque
- Paris, França
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