Testar, Aprender, Escalar: o que 2 anos do nosso projeto experimental nos ensinaram
Há dois anos, a MORFO lançou uma missão ambiciosa no sul da Bahia: restaurar um ecossistema tropical em uma antiga plantação de cana de açúcar degradada, testando e refinando métodos que podem transformar a escala da restauração florestal no Brasil e além.
O projeto PROTEX-BA é nosso primeiro campo experimental, e o nosso maior “laboratório” a céu aberto: 20 hectares onde testamos, aprendemos e coletamos os dados necessários para ajudar a restaurar 100 milhões de hectares até 2050.
O desafio continua: escalar a restauração com biodiversidade
A urgência continua a mesma: o mundo ainda precisa multiplicar por 40 os esforços de restauração de alta qualidade até 2030. No Brasil, menos de 2% dos hectares prometidos foram restaurados até agora.
O PROTEX-BA mostra como enfrentar os desafios técnicos e logísticos e testar abordagens mais inteligentes e eficientes.
Se você está planejando um projeto de restauração em larga escala, as lições que aprendemos no PROTEX-BA podem te poupar tempo (e algumas dores de cabeça). Vem entender:

2 anos de testes: o que mudou?
No início, a área tinha um solo empobrecido, degradado por décadas de uso intensivo.
Já em abril de 2025, a vegetação cobria 96,7% da área, sendo 47,7% floresta e 49% campo.
Apenas 3,3% do solo permaneceu exposto, mesmo após temporadas de seca severa em 2023.
As árvores cresceram, protegeram o solo e criaram melhores condições para que outras espécies se estabelecessem. O resultado é um ecossistema mais estável, com maior capacidade de suportar períodos extremos sem colapsar.
Principais resultados: biodiversidade, resiliência e eficiência
Mais diverso do que nunca!
Das 24 espécies inicialmente plantadas, 16 continuam se desenvolvendo bem, mesmo sob condições desafiadoras como seca e solo degradado.
Isso representa mais de 60% das espécies persistindo em campo após dois anos, um ótimo resultado para restauração em larga escala, onde as taxas de sobrevivência e diversidade muitas vezes são comprometidas.
E esse número não é por acaso.
Ele veio de uma mistura de espécies cuidadosamente planejada, com base na sucessão ecológica. Em vez de buscar apenas volume, focamos em diversidade funcional: espécies que se complementam, ocupam diferentes nichos e constroem juntas uma floresta mais resiliente.
A maioria dos projetos de restauração planta menos de 10 espécies nativas, muitas vezes com forte dependência de árvores exóticas ou de crescimento rápido. Nossa abordagem vai além, combinando diversidade e desempenho.
O resultado? Alta sobrevivência, melhor estrutura florestal e uma restauração mais eficiente, em campo e em custo.
Se quiser entender mais sobre como a escolha de espécies impacta a qualidade da restauração, falamos mais sobre isso neste artigo:
“Estudo mostra a importância de investir em projetos de restauração ‘de alta qualidade’ com mais de 10 espécies nativas.”
Mais árvores, mais cobertura
Nas áreas com melhor desempenho, atingimos densidade de mais de 1.000 indivíduos por hectare, combinando árvores plantadas e regeneração natural.
É um sinal claro de sucesso no estabelecimento e recuperação do ecossistema, em apenas dois anos.
Neste estágio, vemos sinais promissores: a regeneração natural segue em curso, e várias das nossas espécies plantadas já estão iniciando a fase reprodutiva.
Isso pode representar um ponto de virada rumo à autonomia do ecossistema.
Ainda assim, esse momento é ao mesmo tempo promissor e frágil.
Eventos climáticos extremos, espécies invasoras ou limitações na dispersão de sementes podem comprometer o sucesso a longo prazo. É um lembrete de que a restauração não é um caminho linear, mas um processo dinâmico, que exige observação constante, adaptação e cuidado.
Resiliência em ação
O crescimento das plantas ajudou a reter umidade no solo, proteger áreas descobertas e oferecer sombra para novas espécies. Em anos consecutivos de seca, esses ganhos fazem muita diferença.
Teste: Plantio manual vs. MORFO
Um dos experimentos mais claros foi a comparação lado a lado: plantio manual tradicional, com diversidade padrão, versus plantio com alta diversidade da MORFO.
A diferença era visível: nossa parcela apresentou mais vegetação, menor mortalidade de mudas e maior resiliência.
Talvez você achasse que o foco da MORFO em biodiversidade era um exagero. Mas os dados mostram o contrário: é essencial.
E ainda vamos te mostrar mais motivos pra isso…

Lições aprendidas em 2 anos
Dois anos de PROTEX-BA confirmaram, e reforçaram, aquilo em que já acreditávamos:
- A forma como combinamos espécies e planejamos as misturas de sementes impacta diretamente os resultados e os custos.
- Combinar dados de campo com monitoramento por drones de alta resolução nos dá precisão no solo e visão de paisagem. Essa abordagem integrada permite detectar problemas cedo e fazer correções direcionadas, essencial para sistemas dinâmicos e frágeis.
- Florestas mais diversas são mais resilientes: a biodiversidade funciona como escudo contra secas, pragas e eventos climáticos extremos.
- Não existe uma solução única para todos os contextos. Estratégias de plantio multimodais, combinando mudas, semeadura direta, cápsulas de sementes e dispersão por drones, geram efeitos complementares que aumentam a adaptabilidade e a resiliência. E também ajudam a adaptar as intervenções às condições do local, aumentando as chances de sucesso a longo prazo.
São lições que podem, e devem, ser replicadas.
Elas reduzem o tempo perdido em tentativas e erros, e aumentam a precisão dos projetos de restauração.



O que o PROTEX-BA nos diz sobre o futuro da restauração?
Campo + dados nos deram uma visão clara do que funciona, e esse conhecimento já está moldando a forma como restauramos florestas em outros lugares.
Menos desperdício, mais impacto
Com planejamento, cápsulas de sementes e monitoramento constante, conseguimos reduzir os custos em mais de 50% nas áreas maiores.
Alta qualidade com menos esforço
Cápsulas de sementes, drones e planejamento com alta diversidade nos permitiram restaurar mais, reduzindo o esforço de campo em até 20 vezes em algumas áreas, e ainda gerando empregos onde mais importa, como na coleta de sementes nativas.
Escala com consistência
O modelo de plantio multimodal, com monitoramento por IA e correções adaptativas, mostra que escalar não precisa significar perder o controle.
Monitoramento inteligente
Ao integrar dados de campo com análises georreferenciadas, conseguimos acompanhar o progresso do projeto em tempo real, e ajustar rapidamente.
Se você está buscando maneiras de escalar sem perder qualidade, esse modelo pode indicar um caminho possível.
E agora?
O PROTEX-BA continua sendo nosso laboratório de inovação. Vamos seguir testando, melhorando e escalando, sempre com o objetivo de fazer mais com menos.
Nossa missão é clara: ajudar a restaurar milhões de hectares de florestas tropicais até 2050.
Estamos unindo ciência e prática, garantindo que os esforços de restauração sejam escaláveis, eficientes e sustentáveis.
O PROTEX-BA é só o começo.
Mas já está ajudando a alinhar os objetivos dos financiadores com as urgências da natureza, e abrindo novos caminhos para a restauração em outros lugares.